segunda-feira, 12 de março de 2012

Resenha: Vidas Secas - Graciliano Ramos


                                   Vidas Secas
                                                Graciliano Ramos

           Graciliano Ramos foi um romancista, cronista, contista, jornalista, político e memorialista brasileiro do século XX, mais conhecido por seu livro "Vidas Secas" (1938).
           O livro "Vidas Secas" (1938) conta a história de uma família de retirantes que percorre o sertão nordestino, em busca de abrigo e principalmente comida e água. É muito interessante como uma primeira obra literária, especialmente sendo nacional. Mas para se aproveitar tudo o que os fragmentos presentes no livro oferecem, deve-se sempre cogitar o porquê da situação e o que acontecerá a seguir.

            Meu capítulo favorito foi a "Festa", na qual Fabiano, Sinha Vitória, Baleia e os dois filhos vão até a festa de natal da cidade. Num calor insano de sertão, poeira e folhas secas, a família estava vestida, Fabiano com uma roupa bonita, todo fino. Até botinas calçava. Sinha Vitória num vestido vermelho, mal se equilibrava nos sapatos de salto enormes. Mas para ela, era necessário tudo aquilo, pois teimava em vestir-se como gente fina (toda soberba). Os meninos de calça e paletó. Diferente de casa onde apenas usavam  camisinha e andavam nus, sem a menor preocupação diante a opinião dos outros, na época era normal, com aquele calor e morando praticamente que isolados. Não fazia mal, todos estavam arrumados, finalmente bonitos, mas não confortáveis.
            Já na festa, não tinham como se enturmar, sem conhecimento algum, muito menos saco para aguentar quem não conhecia, aquela gente fresca, Fabiano odiava aquilo. Para Sinha Vitória devia ser uma bela experiência, conhecer gente nova, adquirir conhecimento sobre os outros, se socializar (coisa que não acontecia na sua fazenda). Seus conhecidos eram apenas Sinha Terta e Seu Tomás da Bolandeira, terrívelmente isolada naquele lugar, vivendo cada dia repetidamente, preocupada com as contas, cozinhando e sonhando com sua cama de varas. Os meninos agiam como crianças, brincavam, agitadas se perdiam na multidão, tal como a cachorra. Fabiano não gostava da ocasião, não sabia conversar,  ficava só observando e desaprovando a situação, com aquelas roupas apertadas, desejava ir embora, não havia o que fazer ou festejar. Um homem tão pobre, furtado pelo governo, furtado pelos amigos, furtado pela vida. Há de festejar? Farto da situação, tirou a camisa, deitou na calçada.

            Eu pude concluir então, que a razão pela qual Fabiano odiava tanto a vida, dava-se ao desconforto, o desconforto gerava raiva. Fabiano estava sempre com raiva, ainda mais naquela situação, não conhecia ninguém, não queria papo. Um homem que sentia calor todo dia, que devia se preocupar com a seca a qualquer instante, alimentar a família, ouvir os desejos da mulher, a injustiça do Soldado Amarelo (mais precisamente o governo). Tudo aquilo que Fabiano vive, o transforma em um homem cada vez mais furioso. Com tal ódio, quase cometeu um crime capital, ia matar um soldado, uma pessoa. Era má, mas era gente. Ainda bem que não cometeu. Imagina esse homem indo preso, perderia o emprego na fazenda, deixaria a família sem lar. Fugir com Fabiano era difícil, imagina sem ele? Uma moça e dois filhos, ainda mais sem a cachorra para alegrar as crianças. Com essa vida as crianças provavelmente desenvolveriam algum tipo de transtorno psicológico. Ver a morte da cachorra, perder o pai tão cedo, preso, iria morrer na prisão, sem ter para onde ir. A família andaria sem parar, sem rumo, sem perspectiva. 


http://pt.wikipedia.org/wiki/Graciliano_Ramos 

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